quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Cinema popular?


Ao consagrar o questionável “Cleópatra” como melhor filme,
júri do 40º FBCB desagrada público exigente de Brasília


O resultado final da mostra competitiva do 40º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro não agradou o público brasiliense. Ao consagrar o longa “Cleópatra”, de Julio Bressane, como melhor filme e sua protagonista Alessandra Negrini como melhor atriz, o júri oficial da competição frustrou a maior parte do público, que esperarava a vitória do longa paulista “Chega de Saudade” e da atriz brasiliense Rosane Mulholland, que viveu a “Falsa Loura” de Carlos Reichenbach e a protagonista feminina de “Meu Mundo em Perigo”, do brasiliense José Eduardo Belmonte. Como resposta, vaias.



Em compensação, quando a voz do povo se fez valer de forma oficial, o longa “Chega de Saudade” recebeu o prêmio de melhor filme pelo júri popular. O filme foi o mais aplaudido durante os seis dias de exibição. Assim como “Falsa Loura”, outro bom filme da safra 2007, o longa de Laís Bodansky abordou uma história com começo, meio e fim, muita música e poesia. Ao contrário do filme de Bressane, que decepcionou o público pela história confusa e pela interpretação muitas vezes forçadas dos atores, principalmente a premiada Alessandra Negrini.




“Cleópatra” dividiu o público do Festival, recebendo aplausos e vaias ao fim da sessão. O júri o consagrou com seis prêmios importantes, mas se o público brasiliense, acostumado a filmes autorais, não aprovou, o que dizer do público brasileiro em geral, tão acostumado a blockbusters?

Curtas e boas
O curta “Trópico da Cabras”, de Fernando Coimbra, foi o grande vencedor deste ano na categoria 35 mm, com os candangos de melhor filme, melhor fotografia e, ainda, melhor atriz para Larissa Salgado. O prêmio de melhor direção foi dado a Leonardo Lacca, pelo vaiado “Décimo Segundo”. Sob aplausos, Wolney de Assis foi consagrado o melhor ator de curtas pela sua atuação em “Enciclopédia do Inusitado e do Irracional”, da diretora brasiliense Cibele Amaral. O melhor roteiro coube a Camilo Cavalcante pelo bem-aceito “O Presidente dos Estados Unidos”.








Fora da mostra competitiva, o brasiliense “Dia de Visita” foi eleito o melhor curta 35mm pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. O filme emocionou o público ao mostrar a história de dona Sônia de Sousa Faustino, uma mulher abnegada cuja vida era dedicada a ajudar e a evangelizar os presos da Papuda. A protagonista do documentário faleceu na véspera da estréia do filme, atropelada por um veículo que avançou na frente da sua casa.

Premiados








JÚRI OFICIAL

Melhor Filme
CLEÓPATRA, de Julio Bressane

Melhor Direção
LAÍS BODANSKY por Chega de Saudade

Melhor Ator
EUCIR DE SOUZA por Meu Mundo em Perigo

Melhor Atriz
ALESSANDRA NEGRINI, por Cleópatra

Melhor Ator Coadjuvante
MILHEM CORTAZ por Meu Mundo em Perigo

Melhor Atriz Coadjuvante
DJIN SGANZERLA, por Falsa Loura

Melhor Roteiro
LUIZ BOLOGNESI, por Chega de Saudade

Melhor Fotografia
WALTER CARVALHO, por Cleópatra

Melhor Direção de Arte
MOA BATSON, por Cleópatra

Melhor Trilha Sonora
GUILHERME VAZ, por Cleópatra

Melhor Som
LEANDRO LIMA, por Cleópatra

Melhor Montagem
RICARDO MIRANDA, por Anabazys

Prêmio Especial do Júri
ANABAZYS, de Paloma Rocha e Joel Pizini

JÚRI POPULAR

Melhor longa-metragem
CHEGA DE SAUDADE, de Laís Bodansky

PRÊMIO DA CRÍTICA

Melhor longa-metragem
MEU MUNDO EM PERIGO, de José Eduardo Belmonte

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL

Melhor longa-metragem
SIMPLES MORTAIS, de Mauro Giuntini

* Todos são longas em (35mm)





































Festival de Brasília de Cinema Brasileiro agita a capital federal









A quadragésima edição do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro já tem data: o evento mais esperado do ano para os cinéfilos de carteirinha da capital federal será realizado de 20 a 27 de novembro. O tom será mais intimista. Os filmes selecionados terão um perfil mais pessoal e menos político - uma característica do evento desde que nasceu ainda como mostra de cinema, em 1965, durante a ditadura militar.



Ao todo, concorrem seis filmes de longa-metragem e 12 de curta-metragem na categoria de 35mm, além de 18 filmes da categoria 16mm. A premiação para os vencedores será de R$ 190 mil (35mm) e R$ 50 mil para os curtas e média-metragem (16mm). Os vencedores do júri também serão premiados: R$ 30 mil para o melhor longa e R$ 20 mil para o melhor curta.




Entre os longas selecionados, estão os de quatro diretores já premiados com o Candango em edições passadas do Festival: Julio Bressane, que mostrará Cleópatra; Carlos Reichenbach, com Falsa Loura; Laís Bodanski, de Chega de Saudade; e José Eduardo Belmonte, com Meu Mundo em Perigo. A seleção se completa com Amigos de Risco, de Daniel Bandeira, e Anabazys, de Paloma Rocha e Joel Pizzini, único documentário da mostra.



Um dos momentos mais festejados pelos cineastas brasilienses é a Mostra Brasília, que este ano ganha um dia a mais e será realizada de sexta a domingo.



A sessão de abertura – somente para convidados, no dia 20 de novembro – traz uma parte da história do próprio festival nesses 40 anos. Serão exibidos o curta Brinquedos Populares do Nordeste, filme do cineasta Pedro Jorge, primeiro brasiliense a ganhar o Troféu Candango, em 1977; e o longa Proezas de Satanás na Vila do Leva-e-Traz, do cineasta Paulo Gil Soares, o primeiro Troféu Candango de melhor filme, em 1967.



Os seminários e debates, de manhã e à tarde, serão realizados no hotel que sediará o evento, ainda em negociação. O encerramento, no dia 27, o Festival presta outra homenagem, dessa vez ao cineasta Sérgio Bernardes, com a exibição do filme Desesperatu, de 1968, que tem no elenco o ator Raul Cortez.





A exemplo dos últimos anos, o Festival oferecerá ao público diversos horários e lugares para a exibição dos filmes, todos inéditos no país. O Cine Brasília, palco do evento desde 1965, lançará as projeções, sempre às 20h30 e 23h30. Nos dias seguintes, em horários diferentes, os cinemas do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Embracine (CasaPark) e Píer 21 exibirão os filmes que estiveram no Cine Brasília. Na sala Martins Penna, no Teatro Nacional, será exibida a mostra em 16mm.


Candango Fashion

Brasília está na moda. E não estamos falando dos escândalos políticos que estão diariamente nos telejornais nem da meia-dúzia de secretárias e estagiárias do Congresso Nacional que receberam convites para ser capa de revista masculina. É moda mesmo: beleza, estilo, elegância, glamour - conceitos bem representados pelo Capital Fashion Week, um dos mais importantes eventos do setor do vestuário no Brasil. Em sua edição 2007, que aconteceu no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, durante os dias 19 e 23 de setembro, o evento consolidou a capital administrativa do país como o terceiro principal pólo da moda brasileira.

Durante cinco dias, o público rotativo de aproximadamente 40 mil pessoas pôde conferir 38 desfiles, distribuídos em duas salas com capacidade para 700 pessoas cada. Os modelos desfilaram usando produções de fábricas do DF que têm pontos de venda próprios, de multimarcas de Brasília e grifes de renome nacional e internacional instaladas na capital federal, além de jovens talentos locais, escolhidos por concurso do CFW.

Para dar mais glamour ao desfile, algumas marcas investiram em celebridades como Maria Fernanda Cândido (Carla Amorim), Deborah Secco (Zinc), Grazielli Massafera (Zoomp), Bruno Gagliasso (Santa/Dona Florinda), Guilhermina Guinle (Confraria), Paola Oliveira (2 Tempos), Karina Bacchi (Setemares), Marcos Caruso (UMA), Giane Albertoni (Colcci), Carlos Casagrande (Biruta), Gustavo Leão (TNG), Camila Rodrigues (Mercearia), Rafael Almeida (Nyll), Juliana Didone (Kippling), Luli Miller (Ortiga) e Fernanda Paes Leme (Alto Grau/MT). Outra presença de destaque no evento foi a da miss Brasil Natália Guimarães, acompanhando Mariza Gomes Silva, esposa do vice-presidente da República José Alencar. Ambas estavam na abertura do Capital Fashion Week como madrinhas da Abrace, instituição que, juntamente com a Apae, foi beneficiada com doações de alimentos e fraudas recebidas como ingresso ao evento. “É maravilhoso poder unir beleza, elegância e responsabilidade social”, disse a miss, que é a segunda mulher mais bonita do mundo, eleita no concurso Miss Universo 2007.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Quem matou Gilberto Braga?


Lembro que ainda faltava mais de um ano para o início da novela. Diziam que a nova trama do Gilberto Braga viria para arrebentar. Celebridade ficaria no chinelo! O título original do novo sucesso era Copacabana, o tema seria turismo sexual e o elenco teria Cláudia Abreu (como gêmeas antagônicas), Fábio Assunção (como galã), Malu Mader (como vilã) e Glória Pires (como uma cafetina). Pouco tempo depois, veio o primeiro golpe: Malu Mader não faria mais a novela. Em seguida, mais uma decepção: o título seria mudado para Paraíso Tropical. Como se não bastasse, a última e maior facada: Cacau não faria mais a novela, sendo prontamente substituída por Alessandra Negrini, a eterna Engraçadinha. Mesmo assim, a expectativa manteve-se boa. Afinal, texto de Gilberto Braga, direção de Dênnis Carvalho, com Glória Pires, Fábio Assunção e Tony Ramos no elenco...


Paraíso Tropical realmente começou chata e cansativa. Confesso que senti falta de Malu Mader, Cláudia Abreu, Nathália Thimberg, enfim, a habitual patota do Giba. A abertura também não foi das melhores. A música da Maria Bethânia é linda, mas combinava mais com o título original. Paraíso Tropical mereceia na abertura um tema mais sensual, mais brasileiro, tipo "País Tropical", com Jorge Ben Jor, sei lá. Como se não bastasse, nos créditos da abertura, nomes de peso do elenco - como Reginaldo Faria, Debora Duarte, Renné de Vielmond, Hugo Carvana, Yoná Magalhães e Othon Bastos - vieram misturados no miolo, sem o menor prestígio, enquanto Wagner Moura e Camila Pitanga com status de protagonistas, além de Bruno Gagliasso e Paulo Vilhena com destaque.


Mas depois fui vendo que não era a ausência da tradicional patota do Giba nem a abertura que estragavam a novela. A história estava mole, enrolada. A química do Fábio Assunção com a Alessandra Negrini, deixou a desejar. Dois mocinhos chatos, vamos combinar. E um amor instantâneo, surreal, tendo como cenário a Bahia regida por uma Suzana Vieira que mais parecia um misto de Maria do Carmo com Rubra Rosa, personagens que a mesma atriz interpretou, no passado, em tramas de Aguinaldo Silva. O conflito da filha da dona do bordel apaixonada pelo homem cheio de moral que queria banir as prostitutas do hotel, a falsa acusação de pedofilia e a expulsão de uma cafetina de um bairro classe média burguesa de Copacabana até que tinham um certo charme. Afinal, o tema original era o turismo sexual. Mas ainda faltava Gilberto Braga nessa novela.

Será que o problema estava justamente nas comparações com Celebridade? Talvez. Afinal, a primeira melhora aconteceu quando a gêmea má surgiu. E foi logo mostrando a que veio! Sensual, amoral, trambiqueira, ladina, debochada. Nesse momento, senti que Cláudia Abreu fez bem em não interpretar as gêmeas. Paula, a boa, ela até que poderia fazer melhor que a Alessandra Negrini, mas a má, por melhor atriz que seja, ficaria muito parecida com a sua antiga e inesquecível Laura Prudente da Costa. E, como Taís, a Negrini está dando um show. Trejeitos afetados e sotaque caricato, sim, mas convincente.

Em seguida, veio Glória Pires. Nossa, Glorinha e Gilberto Braga juntos novamente, depois de 15 anos! A chegada da personagem Lúcia deu um novo gás à trama, mas ainda está prometendo. Criou-se uma enorme expectativa, ela seria vilã, uma cafetina, depois uma mãe solteira que se envolve com o poderoso Antenor Cavalcanti e tal... Promessas, promessas. O que vimos até então foi um remake do triângulo amoroso entre Glorinha, Tony Ramos e Marcelo Antony. Convenhamos, repetir o trio de Belíssima, tão recente, foi falta de originalidade. Cada um está perfeito em seu appel, mas os três juntos não deu. Nesse ponto, Gilberto repetiu o mesmo erro de Celebridade, quando colocou Marcos Palmeira como galã, contracenando com Malu Mader e disputando-a com Henri Castelli.

Mas o melhor mesmo aconteceu quando Taís e Paula, as gêmeas, se encontraram. A trama ganhou agilidade, se desenvolveu, criou expectativa e emoção. Mas ainda não disse a que veio. A gêmea má usou o recurso do photoshop para separar a irmã boa do galã rico. E a gêmea boa caiu! Mas, graças ao bom senso, logo ficou provado que tudo era uma farsa. O apaixonado casal se reconciliou ao som de "Without You", música linda, mas batidíssima, aliás. O que mais a gêmea má vai aprontar para separar Paula e Daniel? Vale lembrar que ela conta com a ajuda braçal de seu amante, o aprendiz de gigolô Ivan, com Bruno Gagliasso fazendo o papel que foi de Márcio Garcia na novela anterior.


Por falar em vilões, aquela que no início foi apresentada como tal caiu no gosto do público e deixou de ser má. A personagem de Camila Pitanga, Bebel - uma puta vadia, ordinária, mal caráter, dissimulada -, virou uma anti heroína de catiguria e ajudou a deixar o Olavo menos insosso como vilão... O Olavo, aliás, por melhor ator que seja o Wagner Moura, é um misto de Renato Mendes de Celebridade com Murilinho de Pátria Minha. Vilãs mesmo, estilo Gilberto Braga, só temos duas: Taís e Marion Novaes. Essas duas ainda vão aprontar muito. Vera Holtz está se saindo bem no papel - a colunável, aspirante a rica, carreirista de categoria, mãe sem o menor amor pelos filhos. Mas a impossibilidade de Joana Fomm interpretar o papel escrito especialmente para ela pode ser apontado como mais uma causa do insucesso da novela?

Um ponto positivo ocorreu com a reviravolta na vida de Ana Luiza. A personagem da Renne de Vielmond (há anos afastada da TV) era chata, mole, sonsa, enjoativa. Dava enjôo ouvir ela dizer que o Antenor é um marido amoroso, leal, compreensivo e bla-blá-blá! O romance com o Lucas (Rodrigo Veronese) ajudou bastante a tirar essa imagem. Mas quando cai nas graças do público e se torna responsável pela reviravolta da trama, o casal com mais química sai da trama! Será que Ana Luiza e Lucas voltam como andam dizendo? Qual seria a função deles na trama, afinal?


Outa expectativa frustrada foi com relação ao mais novo casal gay da teledramaturgia. Rodrigo e Tiago, lindos, bem vestidos (às vezes com pouca roupa), financeiramente estáveis, apaixonados, bondosos, amigos dos amigos... enfim, perfeitos até demais. Pôxa vida, Gilberto, que eles não tenham trejeitos para quebrar o estereótipo e não haja beijo gay porque o brasileiro ainda não está preparado, ainda vá lá... Mas não precisava criar dois personagens tão insossos, né? Ainda bem que temos Gustavo e Dinorá, divertidíssimos. Isabela Garcia sempre se destacando e Marco Ricca acompanhando bem. Hugo Carvana e Yoná Magalhães estão ótimos como Belisário e Virgínia - esses sim, personagens típicos de Giba: o casal aristocrata decadente que não perde a pose.
A expectativa é grande para o romance de Antenor e Lucia. Será ela capaz de amolecer o coração do frio empresário? Lúcia criou sozinha o filho, nunca contou com a ajuda do pai e não liga para dinheiro. Parece que Antenor a elegeu para ser a mãe do seu filho, futuro herdeiro de sua fortuna. Vai ter muito gente querendo atrapalhar esse romance. Taís, Marion, Olavo, Bebel... Dizem que Gilberto Braga não fica sem o seu famoso "Quem matou?". A pergunta que não quer calar é a seguinte: quem vai ser assassinado da vez?

Gêmea boa, gêmea má, troca de identidades, briga pelo poder de uma empresa, assassinato - cadê a originalidade? Afinal de contas, qual é a justificativa para essa novela se chamar "Paraíso Tropical"? Mas Gilberto Braga sempre merece créditos. Portanto, vamos esperar para ver.

Eça de Queiroz ou Nelson Rodrigues?


"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"


Os versos acima são conhecidos do grande público desde que Arnaldo Antunes os declamou em meio aos acordes da música "Amor I Love You", de Marisa Monte, estrodondoso sucesso no ano 2000. Pouca gente sabe, no entanto, que as belas palavras foram extraídas de um romance do escritor português Eça de Queiroz, publicado em 1878. O Primo Basílio constitui uma análise da família burguesa urbana lisboeta no século XIX, mas é tão atual e contextualizado que sua temática pode ser aplicada a qualquer época ou local. Afinal, nada mais contemporâneo que a hipocrisia da sociedade.
A essência da história é a narrativa de um lar burguês aparentemente feliz e perfeito, mas com bases falsas e igualmente podres. Jorge, bem sucedido engenheiro, funcionário público. Luísa, moça romântica e sonhadora. Casados e felizes, falta apenas a dádiva de um filho para completar a alegria do lar do engenheiro. Mas a felicidade e a segurança de Luísa passam a ser ameaçadas quando Jorge tende a viajar a trabalho. Após a partida, Luísa fica enfadada sem ter o que fazer, no marasmo e em uma melancolia pela ausência do marido. Exatamente nesse meio-tempo, Basílio chega do exterior. Conquistador e "bon vivant", o primo não leva muito tempo para reconquistar o amor de Luísa, com a qual havia namorado antes de Jorge. A ardente paixão faz com que Luísa pratique o adultério. Os encontros entre os dois se sucede à troca de cartas de amor, uma das quais é interceptada por Juliana - a empregada amarga e revoltada de Luísa -, que começa a chantagear a patroa, exigindo-lhe que obedeça suas ordens para nãos er desmascarada.

As personagens de O Primo Basílio podem ser consideradas o protótipo da futilidade, da ociosidade daquela sociedade. A criação dessas personagens denuncia e acentua o compromisso do romance com o seu tempo: a obra deve funcionar como arma de combate social. A burguesia - principal consumidora dos romances naquela época - deveria se ver no romance e nele encontrar seus defeitos analisados objetivamente, para, assim, poder alterar seu comportamento.

Lisboa é o cenário da crítica de Eça de Queiroz. Assim também ocorreu em 1988, quase cem anos após a publicação da obra, na minissérie brasileira produzida pela Rede Globo, escrita por Gilberto Braga e Leonor Bassères, com fidelidade ao livro. Quase vinte anos depois, Daniel Filho, o mesmo diretor da obra televisiva, resolveu levar a história para o cinema, só que, desta vez, mudando o cenário e a época da trama, sem perder sua essência. Em vez de Lisboa, a São Paulo dos anos 50. Jorge continua sendo engenheiro, funcionário público, e viaja para construir Brasília, a nova capital do país, uma razão nobre para se ausentar. Luísa continua sendo a mulher casada massacrada pela tradição, pela sociedade machista, sufocada pelo desejo reprimido. E vem Basílio, o primo, um dândi, boêmio, típico também da época, da cidade. Adultério, hipocrisia, inveja, intrigas no ambiente familiar. Mais Nelson Rodrigues impossível.


Com Fábio Assunção (Basílio), Debora Falabella (Luísa), Reynaldo Gianechinni (Jorge) e Glória Pires (Juliana) no elenco, o filme Primo Basílio poderá ser visto a partir do dia 3 de agosto nos principais cinemas do país. A adaptação do roteiro, não por acaso, foi feita pelo escritor Euclydes Marinho, o mesmo que, juntamente com Daniel Filho, foi responsável pela adaptação dos contos de Nelson Rodrigues para a tevê no especial A vida como ela é. Vale a pena conferir mais essa demonstração do amor pelo buraco da fechadura...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guilherme Trajano fará seu primeiro vilão na Record



O ator Guilherme Trajano (foto) assinou contrato com a Rede Record para atuar na próxima novela, Caminhos do Coração, de Tiago Santiago, autor de Escrava Isaura (2004) e Prova de Amor (2005), recentes sucessos da emissora. Formado pela Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio de Janeiro, Guilherme despontou para a fama como assistente de palco da Xuxa e fez sua estréia como ator no SBT, onde atuou em Os ricos também choram (2005) e Cristal (2006), além de ter sido campeão de cartas.

Aos 25 anos, Guilherme está empolgado com a idéia de fazer o primeiro vilão de sua carreira e quer se dedicar muito para fazer carreira dentro da emissora que está lhe dando toda credibilidade e acreditou no seu talento pra fazer algo totalmente diferente do que já fez. "É o meu primeiro personagem do 'mal', estou muito feliz. Quero fazer um Dino com atitudes de uma pessoa do mal e não no jeito, aquela pessoa que todo mundo olha e fala: 'Nossa, foi ele que fez isso? Nao tem cara...' Não tem cara, mas é corrupto, é do mal...", ele observa.

O personagem, Dino, é um policial corrupto, que será companheiro do vilão-mor Taveira (Gabriel Braga Nunes) e atrapalhar o trabalho do protagonista Marcelo (Leonardo Vieira). "Tenho certeza que o Tiago [Santiago, autor] irá escrever cenas otimas pra gente, ele é fera no que faz, e sei que ele curte muito esse lance de policiais, fugas, etc", aposta o ator, que ainda não sabe quase nada sobre a história de seu personagem. "O que sei é que ele vai se aproximar da personagem da Thais Fersoza, mas como a obra é aberta, tudo pode acontecer né? Eu até prefiro assim...As duas novelas que fiz no Sbt eu sabia inicio, meio e fim, dessa vez não quero saber de nada. Igual Lost, ninguem sabe de nada...Quero que o Dino me surpreenda...", ele analisa.

Jurado
Antes de começar a gravar suas primeiras cenas, Guilherme Trajano será jurado do I Concurso de Sinopses de Novelistas Anônimos do Orkut, ao lado do já consagrado autor de novelas Euclydes Marinho. "É muito bom ver que os talentos estão sendo reciclados, não só na atuação, mas também na autoria das novelas", ele comemora.